sexta-feira, 1 de março de 2019

CARNAVAL 2019 > Vanessa Marcos, musa da Vai-Vai, vai desfilar de cabeça raspada após ritual do candomblé: 'Sou negra e careca sim'

Ela raspou o cabelo por motivos religiosos há seis meses e vem sendo comparada à atriz queniana Lupita. 'No começo fiquei com vergonha, mas as pessoas acharam sensacional'



Vanessa Marcos, 29 anos, é destaque de chão da escola de samba Vai-Vai, escola em que desfila há dez anos. Foi difícil para ela ficar longe das atividades da escola por motivos religiosos, ocasião em que raspou a cabeça e começou a ser comparada à atriz queniana Lupita Nyong'o.


Ela posou para o G1 para o especial "As escolas e seus enredos" nas ruas do Bixiga, bairro na região central da capital paulista onde fica a sede da escola, e falou sobre o enredo e a coincidência com sua fase de renovação.

"Passei pela feitura no santo, um ritual de renascimento. 'Morri' simbolicamente para a vida comum, e renasci para a vida no Orixá, daí a raspagem da cabeça. É um ritual secreto e restrito, mas é uma experiência incrível e emocionante para quem vive", explica a sambista, que é adepta do candomblé.


A raspagem da cabeça foi feita há seis meses e Vanessa cumpriu o preceito de makota da religião e ficou afastada das atividades da escola. Como ainda segue um tradicional e importante resguardo religioso, Vanessa desempenha seu trabalho de modelo e dançarina dentro dos preceitos religiosos respeitando o que lhe foi orientado por seu zelador e sacerdote.


Vanessa não esperava a repercussão.

"Fiquei com muito medo porque era um look completamente diferente, nunca tinham me visto assim e eu não queria sair de casa, estava com muita vergonha. Mas as pessoas acharam sensacional, dizem que eu fiquei mais bonita assim e começaram a me chamar de Lupita e de 'Pantera negra' (último filme da atriz). Eu não consigo ver essa beleza toda, mas agora estou bem mais acostumada e pretendo alongar um pouco essa estadia careca", diz ela.


O novo visual coincidiu como tema da Vai-Vai em 2019, que vai mostrar as lutas do povo negro no enredo batizado de "Vai-Vai, o quilombo do futuro".

"Falamos sobre negros que fizeram parte da história exaltando a negritude. Achei sensacional porque coincidiu com uma fase muito especial na minha vida de renovação", conta ela.


"Tem uma parte que diz ‘Eu sou negra alma do Bixiga’, que me deixa mais emocionada porque é realmente o que eu sou, o que a comunidade é", emociona-se Vanessa.

A Vai-Vai é a quarta escola a apresentar seu desfile no Sambódromo do Anhembi, no sábado, 2 de março.

'De igual para igual'
Vanessa é formada em jornalismo e trabalha como assistente de produção selecionando dançarinas para se apresentarem em países da Ásia, onde ela também costuma fazer shows. Ela diz que sofre menos preconceito em países estrangeiros do que sofre no Brasil.


"Geralmente ficam curiosos com o tom da pele, mas são respeitosos, diferente daqui, que sempre escuto 'ah, mas você só vai pro samba você é só um corpo bonito, você só é um rosto bonito você não consegue chegar em tal lugar por conta de ser do samba'. Mas eu cheguei, sou formada em jornalismo eu tenho a minha profissão, ganho meu dinheiro, não dependo de ninguém. Sou negra sim, sou careca sim e estou aqui pronta para enfrentar qualquer um de igual para igual."


Créditos:
Looks: Ateliê Saelli e Shimith
Beleza: Rodnei Saelli






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