sexta-feira, 1 de março de 2019

CARNAVAL 2019 > Cíntia Mello, rainha da Tucuruvi, estreou no carnaval na barriga da mãe: 'O samba me criou'

Em ensaio clicado no Teatro Oficina, no Bixiga, região central da capital, Cíntia falou de machismo e contou que faz suas próprias fantasias.



Cíntia Mello, 31 anos, nasceu na Zona Leste de São Paulo em uma família que fundou a escola de samba Flor de Vila Dalila. Seu primeiro desfile foi ainda na barriga da sua mãe, mas 2019 será especial: ela estreia na frente da bateria da Acadêmicos do Tucuruvi. Ela participa da série de ensaios do G1 "As escolas e seus enredos".


“Ser mulher da favela, ser negra e do samba são coisas um pouco difíceis. Não sei o que está acontecendo com os homens, mas o machismo anda tão aflorado ultimamente e ser passista e mulher negra é representar todas as meninas da comunidade, é uma responsabilidade muito grande", diz Cíntia.

"Eu fico muito orgulhosa da mulher que eu me tornei, dos meus pais terem me criado com tanta dignidade, com tanto caráter. A favela me criou, o samba me criou e eu me fiz a mulher que sou hoje.”

Cíntia, que já foi passista da Vai-Vai e trabalhou em ateliês, se formou em modelagem e faz questão de confeccionar suas próprias fantasias.


“Eu mesma resolvi fazer porque o carnaval para as meninas da comunidade acabou se tornando um pouco insustentável em relação a dinheiro. O material é caro, a mão de obra também é bem cara até porque é um trabalho manual, difícil então tem que ser valorizado, é um trabalho caro”, conta ela, que fez inclusive as fantasias que usou para este ensaio.


Liberdade
Cíntia posou no Teatro Oficina, no Bixiga, região central de São Paulo, que volta a turnê da peça “Roda Viva”, de 1968, em março. A escolha não foi por acaso. Em 2019, a Tucuruvi fala de liberdade com o samba-enredo "Liberdade, o canto retumbante de um povo heroico". O samba cita músicas lançadas na mesma época de Roda Viva, (a música e a peça), época da ditadura militar brasileira, como “Apesar de você”, de Chico Buarque e "Para não dizer que eu falei das flores”, de Geraldo Vandré.

“O nosso tema é super atual, até porque eu acho que em vez de o Brasil caminhar para frente nessas eleições demos alguns passos para trás principalmente na democracia, na liberdade de expressão, de opinião”, opina Cíntia.


José Celso Martinez Corrêa, um dos fundadores do Tetro Oficina, presenciou o ensaio de Cíntia e aprovou a ideia. "Tem tudo a ver um ensaio de carnaval aqui, falamos muito sobre carnavalizar o teatro. E a extensão do Teatro Oficina imita a avenida do sambódromo, como se a plateia fosse a arquibancada ", comentou informalmente.


A construção atual do Teatro Oficina foi projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi em 1992 e inaugurado em 1993.

A Acadêmicos do Tucuruvi é a quarta escola a desfilar no sambódromo do Anhembi na sexta-feira, 1° de março.

Luta pelo Parque Bixiga
Em "Roda Viva", os atores contracenam com a cesalpina, a árvore construída por Lina Bo Bardi que ultrapassa o muro do teatro.


"A linguagem do teatro Oficina tem uma relação direta com o entorno, não só contracena com o sol, a chuva, a noite, mas com o entorno urbano, porque a Lina fez questão de que o teatro e seu público não se isolassem da vida que acontece lá fora como acontece com os teatros italianos ou os de shopping", explica a arquiteta cênica no Teatro Oficina Marília de Oliveira Cavalheiro Gallmeister, 34 anos.

Desde 2014, Silvio Santos tenta aprovar a construção de três condomínios de alto padrão nos três órgãos de preservação de patrimônio das esferas municipal, estadual e federal. O Teatro Oficina entrou com recurso no Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) e no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e aguarda análise.


"Nós, moradores do bairro do Bixiga, entendemos que a construção desses prédios é ilegal em um território que é tombado. A gente acredita que nesse caso o interesse público ultrapassa o interesse privado. Estamos defendendo o direto dessa terra de existir enquanto espaço público público, de um rio correr na superfície e manter a integridade de um vazio. O patrimônio é soberano", diz Marília.


De acordo com a arquiteta, um estudo concluiu que se os 3 condomínios forem construídos, o Teatro Oficina teria luz natural durante apenas duas horas por dia. O projeto da construtora prevê mil apartamentos com mil vagas de garagem, inclusive alguns andares de subsolo que atingiriam não só o rio que corre abaixo do terreno, mas o lençol freático que está há quatro metros do solo.


A ideia dos ativistas é a de que o terreno seja um parque, já batizado de Parque do Bixiga. "Antes de pensar o que construir nesse espaço, a gente deixou a natureza dirigir e o parque veio nesse sentido, como uma estratégia porque acreditamos que esse espaço tem de manter a integridade de vazio, que importa em uma cidade entulhada como São Paulo. Tem um rio que corta boa parte do terreno e é protagonista e queremos trazê-lo para a superfície. A natureza deu várias direções. Tem um maciço de árvore, o terreno não é plano, é um vale", diz ela.

A construção do Parque Bixiga é um projeto de lei que tramita na Câmara Municipal de São Paulo.


Créditos:
Beleza: André Lima
Looks: Cíntia Mello
Teatro Oficina Uzyna Uzona: Rua Jaceguai, 520 – Bixiga
Peça "Roda Viva": De 29 de março a 28 de abril - sexta e sábado, às 20h. e domingo, às 19h. Valores: R$ 60 inteira, R$ 30 meia (estudantes, aposentados, professores e artistas), R$ 25 moradores do Bixiga (necessário comprovante de residência), R$5 (estudantes secundaristas de escola pública, imigrantes, refugiados, moradores de movimentos sociais de luta por moradia) – limitados à 10% da lotação diária

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