quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

CARNAVAL 2019 > Tarine Lopes, musa da X-9 Paulistana, fala sobre machismo: 'Não é fácil ser mulher e negra'

Samba da escola fala sobre habitação e modelo posou na Ocupação 9 de Julho. 'Não vou deixar de fazer as coisas que eu gosto e me divertir no carnaval por conta do que as pessoas pensam'.



A madrinha da escola de samba X-9 Paulistana Tarine Lopes, 28 anos, já disse que quer um carnaval de superação após ter perdido o tapa-sexo na avenida em 2018. Em entrevista ao G1 para a série “As escolas e seus enredos”, Tarine fala das críticas que recebeu e diz que, por ser mulher e negra, é comum sofrer por causa do machismo. As fotos do ensaio foram feitas na Ocupação 9 de Julho, no Centro da capital.

"Não é fácil ser mulher e negra. Nós sofremos muito preconceito, muito machismo. Nós usamos pouca roupa para sambar, o corpo está sempre exposto, mas eu não vou deixar de fazer as coisas que eu gosto e me divertir no carnaval por conta do que as pessoas pensam. Eu acho que eu e as mulheres do carnaval merecemos acima de tudo respeito", diz ela.

Tarine contou que foi muito criticada por causa do episódio do tapa-sexo e acusada de ter perdido a peça de propósito.

"As pessoas que são do carnaval sabem que eu jamais faria uma coisa dessas, tem notas em jogo, tem minha escola de coração lutando para ganhar o carnaval, então jamais faria isso de propósito para aparecer”, desabada.

Baiana, Tarine conta que nem gostava de carnaval quando chegou a São Paulo, há dez anos.


"Na verdade eu nunca gostei de carnaval de São Paulo e do Rio, eu sou baiana, então gostava mesmo do trio elétrico, da pipoca, daquela agitação. Depois que eu vim morar em São Paulo fui picada pelo bichinho, aí sim eu me encantei pelo carnaval daqui. Sou apaixonada e não consigo mais me imaginar fora disso, eu amo de paixão."

A X-9 é a sexta e penúltima escola a desfilar no sambódromo do Anhembi na sexta-feira, 1° de março.

Pedaço de chão
Em 2019, o G1 usa espaços da cidade como personagem para falar do samba e de questões de São Paulo. A X-9 vai levar para a avenida a história de Arlindo Cruz, sambista famoso por se inspirar nas pessoas mais humildes para compor seus sambas, por falar de quem luta diariamente para conquistar seu espaço e tem o samba como refúgio para se divertir.


"Boa parte das composições de Arlindo se dirige aos menos favorecidos, é a voz do morro, da periferia, ele é um porta-voz social, em suas letras ele fala de desigualdade social. A música do Arlindo é voz de protesto do povo", diz Darlan Alves, um dos compositores do samba da X-9 deste ano.

A Ocupação 9 de Julho, no centro da capital, foi o cenário escolhido para o ensaio de fotos. O prédio foi ocupado entre 1997 e 2003 pela primeira vez pelo Movimento Sem Teto do Centro (MSTC). De acordo com a líder Carmen da Silva Ferreira, 58 anos, nos últimos anos o espaço estava desocupado e tinha virado um ponto de consumo de drogas, além de ter acumulado lixo, matagal e ter foco de dengue por causa da água parada. Ele voltou a ser ocupado em 2016.


"Nós temos uma gestão social com mediadores de andar, que trazem até o movimento as perspectivas e necessidades dos moradores e levam a devolutiva do movimento", explica Carmen.

Cerca de 400 pessoas moram no local, inclusive crianças. O espaço conta com portaria 24 horas, sala de reunião, refeitório, biblioteca, brinquedoteca, aulas de artes e salas de convivência para celebrar aniversários, casamentos, churrasco. É proibido fumar nas áreas comuns e usar drogas. Há ainda um brechó e uma marcenaria, tanto para reformar o que recebe de doação como para os moradores arrumarem as suas janelas, que são padronizadas.

Atualmente são cobrados R$ 220 mensais por apartamento.


"Mesmo que você seja proprietário de um apartamento, você paga mensalmente um valor de condomínio para manutenção, portaria, segurança; aqui não é diferente, nossa diferença é que aqui se paga um valor bem mais baixo. Todo dinheiro é para isso: advogado, contador, estrutura. Apesar de sermos um movimento social, a gente tem de ter nossa vida jurídica e cível em dia com impostos", desabafa Carmen.

Um regimento interno determinado em conjunto com os moradores proíbe a entrada de objetos ilícitos, respeito a idoso e criança, é proibido bater em mulher e vice-versa, usar drogas, tráfico, roubar e levar para a ocupação.

"Todo mundo sabe que ocupação é provisória, nosso intuito não é morar a vida inteira dentro de uma ocupação, é financiar a nossa casa própria", conclui Carmen.


Créditos:
Beleza: Camily Rodrigues


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