quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

CARNAVAL 2019 > Carol Ipaves, musa da Mancha Verde, já foi ginasta e atua como cheerleader do Palmeiras: 'Por ser meu time, é muito mais difícil'

Passista da escola, a estudante de educação física e animadora de torcida do Palmeiras posou na Casa Amarela Afroguarany. 'Quando falo que sou do samba, as pessoas falam que é vulgar'.



A estudante de educação física Ana Carolina Ipaves, 20 anos, estreia em 2019 como passista da escola de samba Marcha Verde, mas sua relação com o Palmeiras começou bem antes. Ela já foi atleta do time como ginasta artística, acrobática e atua como cheerleader (animadora de torcida) do time há seis anos.

"Estou muito nervosa porque esse ano é diferente, a ala das passistas tem peso e está coreografada, então tem aquele medinho de errar. E por ser a Mancha, meu time, é muito mais difícil", diz ela, que posou para o G1 na Casa Amarela Afroguarany, reconhecida como primeiro quilombo urbano do Centro da capital paulista.


A escolha não foi por acaso. Este ano, a Mancha Verde apresenta na avenida o samba-enredo "Oxalá, salve a princesa! A saga de uma guerreira negra", que fala da princesa do Congo Aqualtune, capturada e trazida para o Brasil em um navio negreiro na condição de escrava reprodutora. Já em Pernambuco, ela fugiu para um quilombo que mais tarde seria batizado com o nome do seu neto, Zumbi dos Palmares.


A história de Aqualtune é contada em uma peça que está em cartaz na Casa Amarela, "Abayomi - a primeira boneca de pano do mundo", da atriz e dramaturga Wanessa Sabbath, uma das 15 artistas residentes que mora no local, ocupado em 2013.

Carol já conhecia o espaço. "Eu já vim a uma festa e um projeto sobre demonstração de faces das mulheres. Foi demais, cada uma tinha uma beleza diferente", relembra ela.

A Mancha Verde é a terceira escola a desfilar no Sambódromo do Anhembi na sexta, 1° de março.


A luta de ser mulher
Nascida no Butantã, Zona Oeste de São Paulo, Carol frequenta rodas de samba com a família desde criança e já ouviu muitas críticas por frequentar esses ambientes.

"Quando falo que sou do samba as pessoas falam que é vulgar, mas não é vulgar, é normal, é o seu corpo, você tem o direito de fazer aquilo, de mostrar do jeito que você quiser", diz ela.


"Ser mulher é uma luta, sempre foi e ainda continua sendo. As pessoas ainda acham que podem mandar na sua roupa e no seu comportamento. A gente tem que tenta lidar e se emponderar cada vez mais; não sou do tipo que liga para o que o outro vai falar, vai pensar. Ainda mais no carnaval, acho que a gente precisa ganhar mais poder", finaliza.


Quilombo urbano
Localizada na esquina da rua Consolação com a rua Visconde Ouro Preto, a Casa Amarela Afroguarany é uma construção de 1926, que ficou conhecida como mansão Florentina, em referência a mansões de Florença, na Itália. Pertenceu a uma família que trabalhava com café e, em 1950, passou a pertencer ao Instituto Nacional Previdência Social (INPS), antigo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O espaço funcionou como creche de 1990 até 2001.


No ano de 2014, o espaço foi ocupada pelo coletivo TM13 com o objetivo de "democratizar o acesso, fazer dele um quilombo urbano e um ateliê cultural para trabalhar com arte marginalizada e de resistência", de acordo com o produtor cultural Alex Assunção, 27 anos. Atualmente, corre na Justiça um processo do Ministério Público de SP de reintegração de posse do local.


Quinze artistas residentes vivem no local e trabalham em conjunto com cerca de 200 coletivos artísticos. A programação inclui apresentações de teatro, cursos, workshops, oficinas, prática de ioga, curso de inglês e de libras.


"Trabalhamos de forma horizontal, temos assembleia todas as segundas-feiras e um regimento interno. Todos os dias das 14h às 22h os artistas levantam os colchões do chão e o espaço funciona como um ateliê. Temos escala de portaria e de limpeza e uma política rígida contra drogas. Aqui também não não são tolerados machismo, homofobia e transfobia. Nenhum tipo de preconceito é aceito", explica Alex.


Em 2015, a Casa Amarela Afroguarany foi reconhecida como primeiro quilombo urbano do Centro por trabalhar com arte de resistência negra e indígenas. Os quilombos originais eram espaço de refúgio de escravos negros que fugiam dos senhores. Em 2018, a Casa foi reconhecida pelo governo federal como ponto de cultura.


"Os quilombos se tornaram espaços de resistência não só de negros, mas de brancos e indígenas. Queremos que aqui seja um espaço para todas as pessoas e religiões. A gente quer viver e propagar nossa cultura de resistência para que ela se mantenha viva", diz Alex.


Créditos:
Beleza: Isadora Lucas
Looks: Vanessa Oliveira


Serviço:
Casa Amarela Afroguarany: Rua da Consolação, 1075
Peça "Abayomi - a primeira boneca de pano do mundo": apresentação nos dias 24/02 (apresentação única) e 17, 24 e 31 de março (temporada) na Casa Amarela Afroguarany



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